terça-feira, 15 de abril de 2008

A natureza humana é boa ou má? Por que não agimos a partir da nossa razão?

"A concepção de Deus como um legislador moral"

O aluno Jorge Conceição, graduando do curso de Filosofia da PUC-PR, expôs de maneira parcial a intencionalidade e as características de sua pesquisa científica. O assunto em discussão tem por objetivo a elaboração de seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), baseando-se no resultado de seu projeto de pesquisa desenvolvido através da bolsa do PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica). O problema abordado pelo mesmo situa-se na compreensão das obras de Immanuel Kant (1727 – 1804), nas áreas de Antropologia e Religião. Inicialmente, a problemática em torno do tema abordado parte de algumas indagações pertinentes para o desenvolvimento da pesquisa, a saber: é possível compreender a filosofia antropológica kantiana como uma filosofia transcendental? Ou seja, é possível relacionarmos à natureza humana a pré-determinação da religião? Consideremos que a finalidade dessas duas perguntas consiste em solucionar o problema sobre o conceito de natureza humana em relação à religião vista a partir da ótica do cumprimento da lei.
Para Kant, o homem pode apenas conhecer o fenômeno, aquilo que se apresenta a nós, mas não pode conhecer a coisa em si, ou seja, o nôumeno, a sua essência. Este modo de pensar também é válido quando abordamos a condição da natureza humana, pois, qual é, de fato, a essência do homem? Ao tentarmos solucionar tal pergunta, incorremos no erro de descrever apenas as suas características, isto é, quando falamos de um determinado indivíduo, a partir de suas limitações, dizendo que ele é perverso, neurótico, doido, fanático, egoísta, covarde, mentiroso, enfim, “mau-caráter”, estamos nos referindo aos fenômenos vistos desse sujeito através de suas ações e de seus predicados. Por isso, não podemos dizer se a natureza humana é boa ou má, mas somente caracterizar as suas ações como sendo boas ou más.
É através desse raciocínio de trabalho que o aluno Jorge desenvolve a sua pesquisa, tendo como referência básica dois comentadores das obras de Kant, Hanna e Loparic. Contudo, o objetivo de sua pesquisa consiste em enfatizar outros aspectos da antropologia, da religião, da moral e da semântica kantiana. Procurando abordar quais são as condições de construir um juízo na antropologia que possa dizer algo sobre o homem. Seu intuito é demonstrar a relação entre a natureza humana e a constituição do mandamento moral. Para ele, não é só a lei que dita às regras para o sujeito, mas existe um campo simbólico definido pela cultura que motiva o indivíduo ao cumprimento da lei.
Desse modo, podemos caracterizar o conceito Deus nesta perspectiva de trabalho como um legislador moral. É ele quem motiva o sujeito para o cumprimento da lei moral, pois é dotado de significado e atua como um símbolo motivador e não justificador unido à estrutura lógica. Trata-se daquele pensamento corriqueiro do dia-a-dia: “devo agir dessa forma para receber como gratificação o reino dos céus e não o inferno!”. Esse é um exemplo de que a minha razão não age por si só, mas está vinculada a um agente externo que me motiva a agir dessa forma e não de outra, e isto pertence ao campo simbólico.
Sendo assim, Jorge utiliza Hanna para criticar Loparic, a fim de demonstrar o cumprimento da lei moral incentivado através dos símbolos e não apenas da estrutura lógica, ou seja, da supremacia da razão teórica em relação à razão prática. Estes aspectos e conceitos ressaltados no texto tratam de uma problemática que perdura há séculos e que não foram totalmente solucionados, e a partir disso, a importância de rearticular e trazer novamente para o centro a discussão em torno do que é o homem no século XXI.

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