terça-feira, 15 de abril de 2008

A concepção de liberdade e suas implicações na vida de Jesus Cristo

Para discutirmos sobre o conceito de liberdade na vida de Jesus Cristo tomaremos como referencial de estudo dois filmes: “A Última Tentação de Cristo”, do diretor Martin Scorcese, e “Paixão de Cristo”, do diretor Mel Gibson. Ambos foram filmes de grande sucesso e repercussão na sociedade.
Antes de mais nada, procuraremos construir uma idéia do que é liberdade, sendo esta, capaz de nortear a nossa análise. São muitas as acepções para essa palavra, entretanto, todas possuem alguns aspectos em comum, a saber: condição de um indivíduo não ser submetido ao domínio de outro e, por isso, ter pleno poder sobre si mesmo e sobre seus atos; podemos caracterizar a liberdade sendo essencialmente capacidade de escolha, pois, onde não existe escolha, não há liberdade. “Liberdade, essa palavra; que o sonho humano alimenta; que não há ninguém que explique; e ninguém que não entenda” (Cecília Meireles). E, a partir disso, podemos nos perguntar: Jesus Cristo teria sido um homem livre? Teve a capacidade de escolher ou tudo já estava pré-determinado?
No filme “A Última Tentação de Cristo” baseado no polêmico best-seller homônimo de Nikos Kazantzakis, Jesus é retratado como um ser humano que possui liberdade para fazer escolhas significativas em sua vida. No decorrer do filme há um conflito de identidade. Se apresenta um certo dualismo na vida de Cristo, pois, Ele pode escolher entre ser o Filho Unigênito muito amado e escolhido por Deus e, conseqüentemente, aceitar o sacrifício na cruz, como também pode optar por ser um homem comum e prático que deseja constituir família, ter um lar, filhos e desfrutar de uma vida serena e tranqüila no mais absoluto anonimato. Essa polêmica releitura de sua vida revela as fraquezas e mazelas da condição humana. O que vemos é um Jesus inseguro, orgulhoso, incerto quanto aos reais desígnios de Deus. Enfim, não divino, mas totalmente humano.
Já no filme “Paixão de Cristo”, a percepção é totalmente diferente, Jesus se mostra convicto de sua missão. No maior momento de angústia de sua vida no Getsêmani, onde suou sangue, Ele se manteve resoluto. Mesmo sofrendo com as tentações de Satanás, e, revelando sua condição humana quando diz: “Oh Pai, se é possível afasta de mim este Cálice!” Ele reverte sua opção de escolha na vida e age de modo livre quando continua seu discurso: “Porém não se faça a minha vontade, mas a Sua!”. Jesus assumiu plenamente a condição humana, sentiu angústia, medo, solidão, desespero e abandono: “Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonastes?”. No entanto, mostrou-se totalmente livre, foi autor de sua própria existência, construtor de sua história, mesmo aceitando o projeto de Deus. Uma cena que corrobora perfeitamente essa idéia é quando Jesus no filme fala que: “Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo!”. A liberdade entendida aqui como um ser consciente capaz de fazer escolhas e ter autonomia sobre elas, revela o mais profundo anseio humano. A partir disso, podemos dizer que, em ambos os filmes são muito bem explorados os conceitos de liberdade, humano e divino. Contudo, ao contrário dos que pensam, no filme “A Última Tentação de Cristo”, Jesus não teria sido totalmente livre se tivesse feito a opção em descer da cruz, pois, assumiria a condição de um escravo de suas paixões, esquecendo-se de sua dimensão espiritual e vivendo de forma egoísta, pensando apenas em si mesmo. Por isso, apenas uma pessoa com liberdade total e pleno poder sobre si mesmo e sobre seus atos, seria capaz de morrer numa cruz. Como nos conta a história sobre a vida de Jesus Cristo.
É preciso reformular nossa concepção de liberdade. Isto é, não deixar-se levar por situações em que somos coagidos a agir dessa ou daquela forma. Fazer o tempo todo o que queremos não é ser livre, mas, escravos de nossos desejos.

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